domingo, 18 de julho de 2010

josé


Quando pessoas especiais morrem, o mundo fica um pouco mais frio. Dia 18 de junho de 2010 foi um dia gelado. Eu devia ter notado, sinais não faltaram. Mas só no fim da noite, já de madrugada, provavelmente, eu escutei no jornal a notícia da morte de José Saramago.

No mesmo dia pensei em escrever alguma coisa aqui sobre ele, mas acabei deixando de lado. Hoje fui lembrado pela revista Ler & Cia, que por vezes acompanha a Gazeta do Povo - Saramago é a capa da edição de hoje.

Confesso que só li um livro seu: Caim, uma de suas últimas obras. Foi o suficiente pra passar de completo estranho a admirador. Humor, ironia, sagacidade, tudo muito bem definido, com um toque de "não-estou-nem-aí", em um texto original e inteligente. José Saramago é daqueles escritores que nos fazem parar no meio do livro inúmeras vezes para aproveitar toda a graça de uma frase ou uma situação, para então dizer 'essa foi boa'.

Tirando o estilo próprio - e cansativo para iniciantes, o português se assemelha muito a forma de escrever de Douglas Adams, criador da série Mochileiro das Galáxias. São mundos diferentes, mas ao falar de situações absurdas e distintas, ambos tratam do mesmo tema: o ser humano e seus absurdos. Ambos de forma engraçada e genial.

Dizem que era, e até ele se dizia, ateu. Não o vejo assim. Pelo muito pouco que conheço, vejo no escritor imortal alguém que não acreditava em religiões, mas sim em uma força que torna esse mundo ironicamente mais belo, agindo aqui e ali apenas por orgulho ou vaidade, ou talvez por ser o que seja necessário, fazendo da vida um mecanismo sarcasticamente funcional.

José Saramago deixou esse mundo por que a idade e a saúde não permitiram mais que ficasse aqui. Foi lançar seu olhar direto e sarcástico sobre outro lugar e tornar a existência por lá um pouco mais leve e interessante. Se lá, por acaso, for o céu, está fazendo Deus gargalhar.

"Eu, no fundo, não invento nada. Sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros." José de Sousa Saramago

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