sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ele olhou pra ela

Histórias acontecem em poucos segundos. O que demora é a gente contando todo o contexto, todos os meios que levaram a aquele determidado fim. A história não. Ela acontece num piscar de olhos.

Ou num olhar. Forte, sincero e rápido. Ele olhou pra ela. Mais clichê, impossível. Ele olhou pra ela e viu alguém que já conhecia. De longa data e longa dor. Se encontraram por acaso, como acontece só nos filmes.

Ambos sozinhos, no parque e na vida. Ele não fazia nada, ela caminhava. Quando se cruzaram na calçada, se olharam, como não se olhavam há muito tempo. Ela parou, ele levantou. Ele olhou pra ela.

Durante poucos segundos. Parados na sombra da árvore, se cumprimentaram, mas ele não lembra o que disseram. Provavelmente perguntaram um ao outro sobre a vida, sobre as respectivas famílias, sobre aquela dor de sempre no ombro, sobre aquele emprego que um dos dois queria no fim da relação.

Não importa. Durante aqueles poucos segundos que se olharam, ele só conseguiu pensar em uma coisa. Em uma conclusão que parecia tão óbvia, tão primária: "eu não preciso dela". Pela primeira vez na vida podia dizer isso com convicção a si mesmo. Não precisava, de fato.

Ela sorriu algumas vezes, ele também. Ela desviou o olhar, ele também. Ela se despediu e voltou a andar. Ele sentou. De repente levantou e chamou.

- Você não quer tomar um chá?
- Só se for de camomila com menta, do jeito que você odeia

Enquanto conversavam e riam na padaria ao lado do parque, ele pensou com sinceridade que dessa vez as coisas podiam dar certo.