segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Dicas da semana


Sem conseguir escrever grandes textos por conta de problemas mentais, vou postar algo prático neste respeitoso blog.

São fatos baseados em diversas observações conclusivas que tive nas últimas semanas. Não que eu já consiga por todas essas constatações em prática, mas, pelo menos já tenho uma suposta ideia de como deveria agir para evitar alguns desgastes do dia-a-dia.


- Não dê atenção para o que elas pensam.

Isso desencadeia um processo praticamente irreversível.

- Não dê corda para gente fresca, mimada ou folgada demais.
Isso desencadeia um processo irreversível.

- Procure sempre estar mais alegre do que o normal.
As coisas rendem mais, as pessoas te atormentam menos, e o relógio parece sair do ponto morto.

- Na dúvida, leve guarda-chuva.
Havendo espaço para carregar, não hesite. Extra-oficialmente, São Pedro foi diagnosticado como bipolar.

- Se seu ouvido não é penico, aceite que nenhuma música que venha a ser criada é melhor do que o que já foi inventado.
Ou seja, se quer ouvir algo decente, não espere que isso venha da atual geração brasileira de colorful-emos & sertanejos-universitários. E lá fora, bem... o expoente inspirador do momento é nada menos que "Lady Gaga".

- Não vire seu pé, nem torça seu tornozelo.
São aventuras muito perigosas, que te deixam temporariamente manco - e também infeliz, caso você precise correr pra pegar o ônibus ou fugir de um rottweiler.

- Se não estiver especificamente afim de conversar, não fique online no MSN.
As chances de aparecer alguém lhe pedindo favores insanos são enormes.

- Se você mora com seus pais e algo dá errado em casa, você será eleito culpado.
Inapelavelmente. Desde uma mancha na parede, passando pelo valor da conta de luz, até chegar em um fuzil iraniano escondido na geladeira. E, se você argumentar, ganhará ainda mais culpa na conta. Lembre-se que isto é algo irremediável, e que irá acontecer periodicamente.

- Se você quer ganhar dinheiro com um blog ou apenas fazer sucesso na internet, faça vídeos.
O potencial público consumidor sofre taquicardias e começa a cuspir sangue se tiver que ler frases que ultrapassem 140 caracteres.

- Grandes sacadas ou ideias que possam render devem ser anotadas.
Se você não anotou, esqueça. Uns 65% de tudo que você pensou irá para o limbo.


É, eu tinha algumas coisas boas na cabeça, mas esqueci agora que fui escrever. Isso, aliás, renderia um vídeo desses canais de vlogs, com o cara olhando pra câmera e falando de forma cômica sobre pequenos lamentos do cotidiano.
Por enquanto, vou escrevendo.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ocupado



Tinha medo de telefone. Nenhum motivo racional ou razão sobrenatural pra isso. Nenhum trauma de infância. Tinha medo. Quando ligavam pro escritório, dava um jeito de sair de perto. "Meu Deus, preciso falar com o Pedrão" e saía apressado. Em casa, só um computador. Nada de ligações.

Já tinha até uma tática pré-definida pra quando a mãe ligasse pro escritório. Tirava o telefone do gancho, dizia oi, falava "tudo bem" e perguntava "Como vão as coisas?". Aí era só deixar o telefone em cima da mesa e ir fazer seus afazeres. Depois de meia hora voltava, falava "uhum" algumas vezes e depois se despedia, dizendo que precisava resolver algumas coisas. Era batata. Mais tarde, conversava com o irmão pelo MSN e conferia se estava perdendo algo importante. Quase nunca estava.

Uma vez uma secretária distraída disse pra um cliente que ele estava no escritório. Aquele dia ficou conhecido como "O dia da grande tormenta angustiante". Teve que atender. Conversou por 10 longos minutos com o cara. Quando desligou, suava. A secretária era sua amiga de infância. Tinham crescido juntos, conversavam sempre, davam risada juntos. Foi demitida no ato.

Sabia que não era uma condição normal, mas nunca tivera grandes problemas. Seguia com a vida. Um dia, um amigo o chamou, pessoalmente, pra um bar que havia inaugurado recentemente. "Não tem telefone lá!", disse, brincando. Ele foi. Não tinha telefone mesmo. Bebeu, riu, conversou, até conheceu uma menina. Ficaram horas conversando. Tinham tudo em comum. Umas três vezes disseram "Adoro essa música" juntos.

Fazia tempo que não conhecia alguém assim. Aliás, desde que tinha se separado, mais de 2 anos atrás, não conhecia alguém. Pensou na solidão do apartamento. Dos dias frios e quentes que passava sozinho. Não teve dúvidas: "Me passa teu MSN?". Ela desviou o olhar. "Sabe, não leva a mal, mas eu tenho um probleminha com esse negócio de conversa por computador". A noite já estava no fim, eram praticamente os últimos no bar. "Mas eu te passo meu telefone! A gente pode marcar algo pra amanhã!"

Ele levantou da cadeira dizendo que, na verdade, estava ocupado demais nos próximos dias. Saiu assobiando pela porta da frente.