segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sem noção

Ele chega nos lugares sem ser notado. Parece só mais um idiota qualquer, igual a todos os outros idiotas que não fazem idéia do que estão fazendo ali. Mas ele é diferente. Ele sabe exatamente o que quer. Sem medir consequências. Sem se preocupar com obstáculos. Não importa a situação, não importa o lugar, ele vai fazer algo estúpido.



Todo mundo tem um amigo sem noção. As vezes você pode ser o sem noção, mesmo sem saber. Vai saber. Mas isso pode não ser exatamente algo ruim. Existem vários tipos de sem noção.

Tem o sem noção chato. Ninguém suporta o infeliz, ele só faz merda, mas por algum motivo desconhecido ele faz parte da "galera". Com o tempo, quase sempre é isolado pelo resto das pessoas e faz amizade com os gêmeos estranhos que não falam com ninguém e sentam no canto escuro da sala.
Outro espécime é o irrelevante. Ninguém se importa com o que ele faz, mas como um bom sem noção, ele precisa de atenção, por isso continua tacando fogo na cortina da sala, jogando pedra no ventilador, só pra ser notado. Se não for controlado, pode acabar virando um sem noção do tipo chato. Porém, nesse caso, ele seria isolado completamente. Os gêmeos estranhos que não falam com ninguém e sentam no canto escuro da sala não admitiriam mais de uma relação social.
Por fim, tem o sem noção cool. Ele é tão sem noção quanto os outros, mas por algum motivo especial - inteligência, aparência física, posição social, personalidade - acaba por se destacar no convívio e se torna membro da alta cúpula do grupo que faz parte. Ele corre pelado pelo colégio gritando "mamãe!", os amigos sentem vergonha alheia por ele, mas ele continua sendo legal e amigão.

Os exemplos que surgiram na mente foram infuenciados pelos meus anos de colégio. Não sei se depois de velhos os sem noção que eu conheço vão continuar assim. Alguns sim, outros não, eu imagino, mas eu tenho a impressão de que a juventude é o habitat natural desses seres.

O sem noção mais famoso que eu já ouvi falar morreu antes de envelhecer. Keith Moon era o baterista do The Who, uma das melhores bandas do universo ( qualquer dia faço um post sobre eles). Tudo que eu já ouvi e li sobre o cara da a entender que ele era locão. Muito locão. E isso se refletia no seu estilo musical. Keith é considerado um dos melhores bateristas de todos os tempos, mas tinha um estilo próprio, agressivo, que casava perfeitamente com a banda.

Uma lenda conta que ele jogou um carro na piscina no seu aniversário de 21 anos. Roger Daltrey, vocalista do Who, confirma a história. Sem noção. Outra, não tão engraçada, fala sobre o atropelamento e morte do segurança de Moon, na saida de um pub inglês. O cara tinha saído do carro pra conter um tumulto e foi derrubado. Keith acelerou o carro e saiu dali. Só depois de alguns quilômetros percebeu que o corpo do segurança estava preso nas engrenagens do carro.

Tem uma música do The Who, talvez a mais conhecida deles, chamada My Generation, que fala algo mais ou menos assim:

People try to put us to down
Just because we get around
Things they do look awful cold
I hope i die before i get old

Keith Moon tinha 32 anos quando faleceu, vítima de uma overdose de um medicamento que tomava contra o alcoolismo. A música, clássica, imortal, sem querer, foi feita para ele. Keith Moon não poderia envelhecer. Nenhum sem noção envelhece.


Ps: Who the fuck are you?


sábado, 21 de novembro de 2009

Twitter: "causação"



Li esse texto, chamado "Movimento Twitterário", no Uhull.com.br.

Ele encaixa perfeitamente em várias coisas que ferramentas como o Twitter vem "causando" não só na internet, mas na vida pública. Falação, interação, enfim... enxergo muito de tudo isso como uma busca pelo "aparecer". Quem tem acesso a internet, já pode estar lá tentando se entrosar com celebridades, ganhando seus 2 minutos e meio de fama - arrecadando seguidores e amiguinhos no orkut, além de buscar contatos sensuais para seu MSN.


A situação inicial do texto é a história de um sequestro.


– Não se mexe.

Eram 4 da tarde quando Jurema sentiu o cano gelado do revólver 38 do bandido entre a penúltima e a última costela.

– Abre a porta e entra sorrindo, como se fôssemos amigos – disse o bandido, bem vestido e sem aspecto ameaçador.
Obediente, Jurema entrou no seu prédio, no número 3422 da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. No elevador, suas pernas tremiam. Chegaram a seu apartamento, o 1506. Ninguém em casa, Jurema morava sozinha.

– Fecha a cortina.

– Claro.

– Onde fica o cofre?

– Não tem cofre. Guardo o dinheiro naquela gaveta.
– Então vai lá e pega. Mas sem gracinhas, viu?

– Olha, eu quero colaborar.
– Quer? Então diz aí, cadê as jóias?

– Não tenho jóias.

– Olha…
– Juro…

Subitamente, um rascante som de sirene irrompeu o ambiente, quebrando o silêncio, mas não a tensão. Na rua, três carros de polícia com policiais fortemente armados posicionaram-se em frente ao edifício. Ao lado deles, cinco carros da Imprensa, nacional e internacional. O drama de Jurema estava na TV. E o mundo passou a mirar aquela fresta de janela no 15º andar de um prédio até então qualquer.


Poucos minutos depois, para alvoroço geral, Jurema apareceu na janela. Trazia o seguinte cartaz, escrito em letras de forma: “ELE VAI SE COMUNICAR ATRAVÉS DO MEU TWITTER”. Em seguida outro cartaz dizia “SIGAM @JUREMINHA89”. Em minutos, o Twitter @jureminha89 era o mais seguido da internet em todo o mundo, atingindo 4.342.653.230 seguidores. Todos apreensivos pela primeira mensagem. E ela veio, traduzida pelo @translatingjurema, prontamente criado por um professor de português e inglês.


@jureminha89: Quero um carro blindado com um motorista.


Em seguida, milhões de RTs. Milhares de replies. Três foram os posts mais retwittados.


@marciopereira: @jureminha89: Blindado? Meu tio tem uma loja de blindagens. Telefone 2032-3213. Faz em 2 dias.


@albertopinto @jureminha89: Com esse trânsito, tomara que a blindagem seja boa, porque a polícia vai atirar de perto.


@pedromancini @jureminha89: Pede um helicóptero, burro.

A polícia rapidamente cadastrou-se no Twitter com o nome de @PMilitar e usou a foto do Capitão Nascimento como avatar. @PMilitar logo passou a seguir @jureminha89, mas não sem pedir para que a mesma a seguisse. Assim que ela obedeceu, @PMilitar enviou uma DM para o facínora:


@PMilitar d @jureminha89 Calma. Está tudo bem aí?

@jureminha89 A polícia me mandou isso por DM: “Calma. Está tudo bem aí?”


@jureminha89 Tudo bem é o caralho! Meu blindado com motorista. Ou o próximo post da jurema será póstumo.

A polícia, vendo que seus DMs seriam publicados pelo bandido, passou a twittar publicamente.


@PMilitar Precisamos de uma prova de que a moça está bem.

@jureminha89 Cliquem nesse link, seus merdas: http://twitpic.com/p3jka


Um link do Twitpic mostrava Jurema tranquila, com um sorriso para a câmera. Alívio geral. Deboche também.

@julinho Gostosa essa @jureminha89, hein. Morre fácil.

@chico_xavier @jureminha89 Fica tranquila, menina, se você morrer pode se comunicar com a família através de mim.

@brunoXC @jureminha89 #freejurema.


Percebendo a proporção que o fato tomou, o assaltante disparou o seguinte post.

@jureminha89 Se o tag #freejurema não entrar nos Trending Topics em 1 hora, a moça morre.


Esse post foi o suficiente para que, em 10 minutos, #freejurema liderasse os Trending Topics do Twitter.


@jureminha89 @PMilitar Viu, seus babacas. Eles e eu queremos libertar a moça, mas sem o carro e o motorista, nada feito.


@PMilitar Se entrega, prometemos não agredir você.


Segundos depois, pra surpresa geral, o seguinte post:


@jureminha89 Agora quem tá escrevendo é a Jurema. Pai, mãe, eu amo vocês. Por favor entreguem o carro.


Uma equipe da Rede Globo na casa dos pais de Jurema, mostrou ao vivo a reação da família. A mãe se benzeu, o pai apertou o terço com força. Dois tios se abraçaram. Segundos depois, o perfil @familiadajurema publicou uma foto com a família toda segurando uma placa, na qual se lia“ Juju, te amamos”.

@jureminha89 Sou eu de novo, o bandido. Cadê meu carro?


@PMilitar Está a caminho…


Nessa altura, tanto a twittosfera quanto toda a mídia tradicional de todo o mundo só falava do caso Jurema. O planeta parou para acompanhar o sequestro. Orações em diversas línguas, para diversos deuses, foram postadas no Twitter.
Passou-se uma hora sem comunicação alguma entre ambas as partes. Nem @jureminha89, nem @PMilitar twittavam. Até que Jurema twittou.

@jurema Gente! O bandido fugiu pelo terraço. Mas me obrigou a esperar 10 minutos antes de divulgar. Estou LIVRE!!!!!!!


Segundos depois, a polícia invadiu o apartamento. Com lágrimas nos olhos, Jurema abraçou um policial. Um único pensamento assaltava sua mente: “Como é fácil conseguir bilhões de seguidores com uma pequena mentira”.



sábado, 14 de novembro de 2009

Pequenos sonhos idiotas



Os pequenos sonhos idiotas nascem e morrem todos os dias. Surgem nos momentos mais aleatórios e fazem com que desejemos algo - que nos traria uma alegria que não faz muito sentido. Como quando torcemos para que o cara xarope da turma tropece durante a apresentação de um trabalho - ou que a máquina do fliperama dê tilt, e se possa ficar jogando de graça a tarde inteira. Hoje, pude assistir um vídeo que mudou a minha vida - pelo menos até amanhã.




Personagens non-sense que residem em nosso inconsciente se degladiando, com direito a fritas médias com coca. Um sonho já foi realizado...

O outro, no momento, é descobrir aonde achar essa bizarrice para baixar.




PS: A comemoração de vitória do Ronald McDonald é um show a parte.

PS2: Acho que sou meio idiota.

PS3: Eu ia fazer uma piadinha monga aproveitando o gancho sobre videogames, "PS2", "PS3"... mas isso reforçaria a observação acima de maneira colossal.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Qual seu favorito?


Eu tinha pensado em fazer um texto sobre música. Era um texto muito bom na minha cabeça. Mas, quase como sempre, a inspiração que de repente me veio, não mais do que de repente foi embora, assustada com o caos e as luzes na minha mente, talvez. Hoje ela voltou, acanhada, com medo, mas voltou. Voltou diferente. Não vou mais falar sobre tudo, vou falar só de uma banda.
Apesar do relativo sucesso que eles fizeram, ninguém hoje deve se lembrar. Pudera, duraram apenas uma década. Quem é que faz história em uma década?



Eles fizeram, e todo mundo lembra. Esses caras aí do vídeo formaram, de acordo com a grande maioria das pessoas, a maior/melhor banda já formada. Eu não gosto desse tipo de rótulo. Faz parecer que nada melhor nunca vai aparecer, é injusto. Mas nesse caso, parece fazer algum sentido. E eu não falo nem de qualidade. Não consigo ver nenhuma coisa de outro mundo nas músicas ou nos álbuns deles. Não é minha banda favorita, nem nada disso. Mas tem certos fatos que não dá pra negar.

O quarteto passou por diversas fases durante a carreira. O que é incrível é que a qualidade se manteve. Do pop mais meloso até o mais subversivo rock'n roll. Mesmo no fim da carreira, quando, ao que parece, um não aguentava mais olhar pra cara do outro, as canções pareciam melhorar. O álbum Abbey Road, por exemplo, um dos mais aclamados da história, é um dos últimos. Foi feito em 1969, quando a relação entre os 4 já tinha ido pro brejo.

Outro fator relevante é o sucesso entre as mulheres. Talvez tenha sido a primeira banda a ser assediada e a ter gritos estridentes como sonoplastia nas apresentações. Hoje, eu conheço diversas meninas que os adoram. É cool gostar do fab four. E, cá entre nós, eles não representavam e nem representam nenhum modelo de beleza. Porém, considerando o velho pensamento de que se ganha uma mulher pelos ouvidos, por aquilo que se diz a ela, faz bastante sentido. A fase romântica, por assim dizer, esteve presente no grupo durante todo o tempo, e, como não podia deixar de ser, as letras dessas canções estão entre as melhores do gênero.

E como se tudo isso não bastasse, depois de quase 40 anos da separação da banda, ela é uma das maiores referências culturais da nossa época. De cabeça, sem pensar muito, pensei em 5 filmes feitos nessa década que em algum momento mencionam o quarteto. Sem contar a influência. A inovação. A beleza das letras. Os fantásticos instrumentistas que eram.

E foram apenas 10 anos.



Ps: George, sem dúvida. Eu sempre preferi os coadjuvantes. Mas nem tanto a ponto de escolher o Ringo.