domingo, 18 de julho de 2010

O quadro

Amarelo.

Se alguém me perguntasse qual a cor em que penso quando penso nela, minha resposta seria essa: amarelo. Não sei exatamente o por que, e ninguém fez essa pergunta besta, mas eu pensei na resposta.
Diria que a cor do cabelo ajuda. Da cor da areia de um deserto. Seu vestido favorito também era amarelo, apesar dela sempre dizer que aquilo era bege-escuro. Mas é provável que o dia em que dissemos tchau seja a razão.

Aquele foi um dia amarelo.

Me lembro muito pouco das preocupações e sentimentos do dia, assim como das conversas e das pessoas. Lembro apenas de uma imagem, que ficou pendurada na parede da sala principal da memória, como um quadro bonito, pintado por um artista promissor e desconhecido.
Nele, ela está sentada na varanda que dá para a parte de trás da casa. Com os braços pendurados sobre as pernas e a cabeça afundada entre os joelhos. Não sei se chorava, não lembro. Minha imagem é estática.
Não é o sol que produz a lembrança amarela. O dia estava nublado, e o meu amarelo não é amarelo de sol. É um amarelo pálido, quase branco, da cor de um sorriso sem graça. Também não era a cor das paredes da casa, vermelhas como seus lábios.

O que estava amarelo era o ar.

A imagem aconteceu logo depois de percebermos que o fim estava ali, encostado na porta, nos olhando e se lamentando por presenciar uma situação tão patética. Então, acabou. O fim já havia construído um muro e feito uma porta entre nós, fazia já algum tempo. Nesse momento ele apenas passou a chave e foi embora, com um ar de que estava atrasado para outro compromisso mais interessante, como chutar pedras na rua.

Moramos juntos desde então, e eu nunca mais a vi.


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