quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Onde

Acho que todo mundo, desde sempre e em qualquer lugar do mundo, tenta encontrar um lugar que possa chamar de seu. Um lugar que signifique conforto. E não, não vale o seu quarto na casa dos seus pais. Esse todo mundo tem. Nem que seja um canto de uma marquise pra um sem-teto, ou um pedaço de rua pra um desabrigado. Todo ser humano tem um canto próprio onde mora. O lugar de que falo tem que ser diferente. Tem que ser um lugar no mundo. Um lugar que dê segurança mesmo longe de casa e, vá lá, inspiração mesmo fora da mente. Encontrar um lugar próprio é uma arte.

Os amadores muitas vezes caem no erro de escolher bons lugares por bons momentos que aconteceram lá. Um encontro, um beijo, um abraço, uma conversa. É um bom método, mas vai dizer pra lembrança que fique lá enquanto a vida continua. Nossas experiências mudam e os lugares, muitas vezes, perdem o valor. Acho que lugares escolhidos de acordo com acontecimentos são importantes, principalmente pra gente passar, olhar e dizer: "Eu já estive ali" ou "Eu já fiz merda ali" ou "Nossa, meu dente deve estar naquele lago ali ainda".

Mas, não. Também não é desses lugares que eu tô falando. O lugar de que eu tô falando não depende da nossa segurança ou de alguma lembrança marcante. Não depende nem do que a gente acha ou faz. O nosso lugar no mundo não depende da nossa escolha. É ele que escolhe.

Não fui eu que escolhi entrar pela entrada 102 da Baixada logo depois de virar sócio, ficar do lado da escada e decidir que ali era meu lugar no estádio do meu time. Tudo bem, é a primeira entrada depois das catracas e isso pode ter ajudado na escolha. Mas não fosse meu atraso, meu cansaço e minha pressa de entrar logo e ver o jogo, não seria ali que eu ficaria. No entanto, toda vez que eu tô ali, do lado daquela escada, eu tô no meu quarto na casa dos meus pais.

Não é a segurança, ou o conforto, ou a localização. Não é o melhor lugar do estádio. Mas é meu lugar. E isso ninguém muda. Assim como ninguém muda o pôr do sol da Avenida Sete de Setembro, no centro da cidade, na altura do Shopping Curitiba. Ali, num dia bonito, quase às 6 horas - ou às 8, no verão - também é meu lugar. Você vai dizer que existem outros pores-do-sol (Sim, é esse o plural. Eu procurei no Google) mais bonitos, mais vistosos, com mais natureza e coisas espetaculares. Mas aquele da Sete é meu. Eu gosto da luz invadindo os prédios e do sol que deixa tudo invisível. Eu gosto de olhar pro outro lado e ver as nuvens e a chuva anunciada - afinal, estamos falando de Curitiba. É meu lugar.

Vá encontrar o seu.