sábado, 8 de outubro de 2011

O Céu

Meu quarto tem vista pro céu. Eu moro no chão, mas daqui dá pra ver até lá em cima. Foi assim que aprendi a voar, deitado na minha cama. Quando acordo e vejo o céu, tudo lá embaixo fica pequeno, como num sonho. A janela sempre fica fechada, mas quando o dia tá bonito ela abre, como se o mundo me convidasse pra dançar. Eu não sei dançar, por isso vôo.

Quando chove, e aqui chove bastante, eu posso ver as nuvens caindo, como se tivessem saudade de encontrar o chão. Deve cansar ficar lá em cima, só observando. Por isso elas caem. Cair é bom. Ainda mais quando você sabe que pode levantar, ficar lá em cima até ter vontade de cair de volta. Como quando você pula e o mundo pula junto com você. Todos caem, mas é como se uma mola invísivel fizesse com que todos pulassem de volta.

De noite, do meu quarto, eu vejo as estrelas conversando, como velhas amigas que são. Conversam em uma língua particular, mas eu juro que entendo. Elas falam sobre o infinito, sobre as pessoas e sobre as fofocas do escritório. Não por maldade, mas porque é engraçado. Quando eu canso de ouvir, durmo. Sei lá com o que sonho, mas quando acordo eu sei que o céu me encara, mesmo com a cortina fechada. Me chama pra dançar. Ele tem vista pro meu quarto.