domingo, 30 de maio de 2010

Universo paralelo

Estava ele em casa naquele dia. Na verdade, estava ele em casa quase todo dia. Trabalhava em casa; tinha TV a cabo, internet, banheiro e uma cama confortável. Que pessoa em sã consciência acharia um motivo para sair desse paraíso?

Bom, aí que tá.
Em um desses dias, ele pôs-se a pensar. Tinha uma vida tranquila - dinheiro não sobrava, mas também não costumava faltar. Mulheres, bem, também não sobravam, e sim faltavam, com uma frequência acima do desejado para uma pessoa de 23 anos do sexo masculino. Seu trabalho lhe consumia um tempo considerável, mas, lhe sobravam sempre "pedaços de dia" mal aproveitados.

Decidiu, então, reorganizar sua rotina. Juntar algumas horinhas na semana para por a cara do lado de fora, e ver o que acontecia. Descobrir novos lugares, pessoas, diversões. E assim fez.

Um belo dia, após seus afazeres, preparou-se para desbravar o além-casa. Colocou sua calça jeans favorita com cheiro de naftalina, uma camiseta que a prima falou que era bonita, e arriscou um penteado recomendado por uma reportagem do Jornal Hoje. Pena que, como ele iria sair com a moto do irmão mais novo, o novo cabelo estaria sujeito aos efeitos do uso do capacete. Enfim, chegou na garagem, pronto para sair, e pensou. "O que há na cidade para se aprontar durante o dia, afinal"?

Revisitou os pensamentos, e tentou traçar uma rota. Mas, se decepcionou. "Se eu não for a um shopping ou a um parque, só me resta ir em um bar pelego ver gente bizarra. Que maravilhoso número de opções! Melhor voltar para a TV a cabo". E assim fez.

Ainda "arrumado", assistia a um seriado com histórias sobrenaturais que nem gostava muito - via por causa da atriz coadjuvante; uma coisinha inacreditável, diga-se. Bem, quando chegou a hora dos comerciais - aonde se anunciava um novo e revolucionário aparelho "fazedor de sucos" -, pensou em aproveitar a noite. Afinal, era sexta-feira, ele podia ir em algum lugarzinho aí cheio das galeras descoladas, se dar bem e curtir pra caramba. "Ooh yeah, manolo", disse, rindo de sua própria futilidade necessária.

E assim fez. Pesquisou no Orkut e no Google algum lugar que o povão anônimo da internet indicasse como bom. Colocou os trocos na carteira, passou uma nova dose de desodorante e foi. Chegou no lugar, e se entusiasmou. Realmente, estava bombando. Gente pra tudo que é lado, algumas pessoas até dignas de adicionar em seu MSN, com certeza.

Entrou no recinto após ser apalpado pelo segurança, e ouviu de longe a música. E foi chegando mais perto. Descobriu que era sertanejo. Engoliu o seco, piscou forte e continuou andando. Olhou para frente, como se procurasse problemas - e teve sucesso na busca.

Um jovem, de camiseta regata, braços grandes e afastados - como se estivesse com os suvacos assados - o encarava. Um pouco perturbado, mas sem se preocupar, olhou então para uma garota que estava na frente do cara de regata. Esta, um pouco acima do peso, estava grudada no cara, de costas para ele, e indo até o chão. Nisso, deu para ver que ela estava cantando a tal da música que tocava. Procurando algum conforto, tirou os olhos da gordinha e procurou um outro elemento que demovesse de tais pensamentos. Então, avistou três rapazes dançando, berrando. E usando chapéus. Foi demais.

Voltou para casa e foi direto para o computador para achar o que fazer.



Algumas coisas, separadas, podem ser tidas como brincadeira. Juntas, viram masoquismo.


E por aí vai.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Pedindo a conta


Peço desculpas pelo estranho amontoado de frases logo abaixo.

É que até parece que tirei um peso das costas.
Deve ser porque tirei, mesmo.

Me livrei de algo que só me enchia a cabeça.
Agora, volto a encher a cabeça por mim mesmo. Talvez seja pior, mas, não tenho que bater cartão. Ou sorrir pra quem preferiria ganhar 1 centavo a me ver vivo por mais um dia (o que era recíproco).

O problema maior, então, é a estima. E como fica ela com a desocupação? Aliás, por que me preocupar tanto com isso?

Lembro de quando consegui a liberdade:

Feito! I'm out!... mas, passada a euforia, veio o estalo na cabeça.
Uma hora, daqui alguns dias, vou me sentir mal com isso - pensei, de imediato.
Deu um dia, e já senti esse nó, pegando firme.
Estou com mais tempo, e era isso que eu precisava.
Usar bem o tempo, agora, é o que preciso.

E daqui a pouco, vou precisar do quê?


domingo, 9 de maio de 2010

Detalhe



É só um detalhe. Uma simples equação que chega a um resultado. Bem, é mais complexo do que isso. Matemática parece simples comparada à complexidade dos relacionamentos humanos.

Cacete, tô me enrolando.

Como você sempre diz que eu faço e eu sempre nego. Tá, vamos começar de novo.

É só um detalhe. Nós somos amigos e tal faz uns 5 anos e é legal assim. Você me conhece, eu te conheço, a gente dá risada juntos, ri um do outro, é legal. Sempre foi. Todo mundo fala que a gente devia namorar, que amizade entre homem e mulher não existe, mas pra que estragar tudo com um relacionamento? Relacionamentos sempre terminam com um querendo enforcar o outro com um barbante, ou algo assim. Não, não, muito obrigado.

Nós nunca chegamos perto de ser um casal. Exceto aquele dia na casa do Zé. Você tentou me beijar pra pagar uma aposta com as tuas amigas, mas teu bafo de cachaça tava insuportável. Você quis quebrar aquela garrafa na minha cabeça por eu negar teu beijo, mas a gente riu disso depois, como bons amigos. Eu sempre critiquei teus namorados, você sempre chamou as minhas namoradas de piranhas aproveitadoras, ou cachorras aproveitadoras, algo relacionado com animais aproveitadores, não lembro. Elas, de fato, eram, mas o que se há de fazer? Além do mais, você quase se casou com o Paulo. Uma pena você ter descoberto que ele tinha mulher e 3 filhos no Ceará no jantar de noivado.

Foi você que me disse aquela frase do Mário Quintana, não foi? "Amizade é um amor que nunca morre". Nós somos amigos e tal. Um beijo, uma noite, seria só um detalhe. Nós somos amigos e tal e é legal assim. Mas você pode, por favor, se apaixonar por mim agora?