sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

À felicidade


Felicidade não é sorrir. Não é estar em paz consigo mesmo, nem achar graça da vida. Não é estar com quem se gosta, ou fazer o que se gosta, quando se quer. Felicidade não é jogar futebol na areia da praia e depois ter um mar inteiro pra mergulhar e esquecer o cansaço. Não é ter uma rede pra deitar durante uma tarde preguiçosa. Felicidade não é gargalhar com os amigos até perder o fôlego. A felicidade é uma fotografia.

O tempo não para (/dias sim, dias não/eu vou sobrevivendo sem um arranhão). O tempo é uma força da natureza, um vendaval incessante que nos arrasta pela vida, um imenso vazio que corre pelas montanhas e pelos vales e... O tempo não para. A alegria que se sente no instante passa, ou aumenta, ou acaba no instante seguinte. A felicidade só existe depois. Logo depois ou dias depois, mas nunca no momento, no exato momento em que, de fato, acontece. A felicidade é uma lembrança.

No exato momento em que, de fato, acontece, a felicidade é uma mistura de preocupações, pensamentos e atitudes que nos fazem estar ali. Não dá pra parar e entender que se é feliz, então. Nós sempre somos felizes e não sabemos. Quase sempre. O tempo não para, mas às vezes dá um tempo pra nós. Como se dissesse “Vai cara, repara, esquece as preocupações e repara na mulher linda que ta segurando a tua mão” E nesses raros momentos, nós reparamos. Conseguir reparar que a felicidade esteve presente agora a pouco é o que torna alguém feliz de fato. Quanto mais rápido se faz isso, melhor. Quanto mais rápido vemos que estamos felizes, mais o tempo está do nosso lado.

As lembranças, por melhor que seja a memória, vão perdendo o sentido com o passar do tempo. As imagens permanecem, porém perdem o foco e a nitidez. Mas o pior é não se lembrar do sentimento. Não se lembrar do que aquele beijo te fez sentir é uma perda imensa e, infelizmente, inevitável. Ah, o tempo. Essa raposa sorrateira que espreita nos vales e nas montanhas e... O jeito é lembrar na hora. Aproveitar as brechas que o tempo dá e perceber a felicidade que está ali, alguns segundos atrás. Depois se espreguiçar, se ajeitar na rede e olhar o sol se escondendo no horizonte.



2 comentários:

Zeca Monteiro disse...

Foi atraente a forma com que você usou as metáforas no seu texto.
Invista nisso meu rapaz, ficou muito bom.

Rodrigo disse...

Mas que poeteiro! Bem, não acho certo quando uma pessoa brada que é, ou se considera , "feliz". Como bem disseste em seu texto, a felicidade, que temos na cabeça com esse rótulo, surge de algo "passado", e que precisa ser maquinado pela nossa mente pra que possamos sentir.

Citando poetinhas:
"A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar..."