quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Escribas


Todo personagem carrega os traços de personalidade de seu criador. Espasmos de criatividade que ganham vida. Trazem consigo as dores e os pensamentos e as vontades e sonhos e desejos de escritores solitários. Machado de Assis não era Bentinho, mas Bentinho definitivamente era Machado. A vida não nasce a partir do nada. Nasce a partir do tudo dentro do cérebro pulsante do escritor. A vida dada através de linhas e letras nada mais é do que uma parte do universo que reside dentro de todos nós. Do universo que somos todos nós.

Sherlock Holmes representa os sonhos de infância de Sir Arthur Conan Doyle. Arty, como era conhecido na escola, vivia tentando resolver mistérios insolúveis, através de métodos considerados sem nexo algum por seus pais. Frustrado na carreira de investigador, Arty teve que se contentar com os livros. Quem pode dizer que essa não é a verdade? Depois que todos os personagens reais das histórias não estão mais aqui, tudo vira estória.

Felizes são os poetas, que só precisam do coração e da alma para protagonizarem seus contos. E esses dois personagens são os melhores que alguém pode ter. Mário Quintana é um passarinho. Eles, passarão. Quem são eles? Eles que ninguém sabe de onde surgem, mas estão por toda parte? Outros personagens. Ocultos. Como oculta é grande parte do cérebro humano. Personagens obscuros mostram a obscuridade dentro de nós. Quem era Robert Louis Stevenson, o médico ou o monstro? Os dois, com certeza. Aqueles que são capazes de demonstrar traços tão distintos em seus personagens são os escritores mais brilhantes. E os seres humanos mais perturbados. Já seriam pelo simples fato de escreverem, aliás.

Dar a vida a alguém, que, no fundo, é apenas um outro eu do escritor - e do poeta, e do compositor - é deixar registrado no mundo um pouco de nós. É como se a vida que nós temos fosse morar em outros corpos, em outras mentes. Os personagens que criamos se tornam nosso único registro nesse mundo. Todos criam personagens. Alguns os mantém dentro de si. Outros, os deixam livres para que conquistem o mundo. Somos todos personagens de nós mesmos. No fim, a vida é um texto de Luis Fernando Verissimo.



5 comentários:

Zeca Monteiro disse...

Pia, a barata do texto abaixo é você? haha

Bruno disse...

hahahahaa
Vc pegou pegou o espírito da coisa

Rodrigo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo disse...

essa exposição dos fatos faz com que todas as historinhas e crônicas que eu planejava escrever sejam um atestado de idiotice

Bruno disse...

huahuahuahuauha
Vejo que isso não freiou seu impeto de escreve-las