segunda-feira, 11 de junho de 2012

Gêmea

"Que azar, rapaz. Mas não se preocupe não, viu. Coisa dessa só acontece com quem tá na chuva se molhando. Fazer o quê?"

O problema do meu amigo aqui, moço, é que ele encontrou a tal da alma gêmea. Procurou, procurou, procurou até que achou.

Bom, né, "felicidades pro casal". Pois foi aí que se deu a má sorte. Era gêmea porque era igual mesmo. Aí você me diz "que beleza!'. Aí eu digo "é, às vezes é". Coisa assim não dura pra sempre porque coisa igual não se completa, mas até o pra sempre chegar dá pra aproveitar um bocadinho.

O caso é que nesse caso a gemitude da coisa não podia ser. Foi assim: ele se encantou quando viu que ela, como ele, vivia bem com os outros, mas vivia bem mesmo era com ela mesma. Gostava de sair, mas gostava mesmo era de ficar em casa. Gostava dele, mas gostava mesmo era dela. O Jorginho gosta de conversar, é um bom amigo, mas só se perde mesmo quando tá nesse mundo dele. Igual ela.

Quando perceberam, já era tarde. Tavam os dois lendo o mesmo livro, cada um num lado da cidade.

Ela começou assim: 'olha, não é você..'. Aí ele completou ' ..sou eu'. Parecia ensaiado, uma maravilha. Acho até que foi, mas não por eles. Quando viram, já tava cada um indo pro seu canto de novo. Agora a gente tá aqui bebendo pra comemorar a beleza da vida. Diz aí pro moço o que você me disse agora, Jorginho. Diz pra ele o que é que você tá procurando dessa vez.

"Alma parecida", disse o Jorginho.


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